Emoção, Mente, Inteligência, Imaginação e Criatividade
As emoções são o resultado de um conjunto de processos fisiológicos que ocorrem no nosso organismo: a felicidade, a vergonha ou a culpa são a química no cérebro, são, simplesmente, mudanças moleculares. Não podemos eliminar as emoções do nosso corpo: elas fazem parte da nossa biologia.
A forma como o nosso cérebro percebe essas mudanças é aquilo a que chamamos sentimentos ou sensações. São essenciais para solucionar problemas que requerem criatividade ou que precisam de elaborar e processar grandes quantidades de informação.
Viver é muito mais fácil se tivermos emoções e sentimentos. E, se estes forem os adequados, ainda será mais agradável e aprazível. Aprender e recordar são também muitos mais simples quando vão acompanhadas de uma emoção.
Decidir sem sentir nada é, talvez, o sonho de um verdugo, mas para a maioria dos mortais é uma situação que não se deseja. Emoção e sentimento então ligados à espécie humana e ajudam-nos a decidir, todos os dias, o que queremos fazer connosco mesmos.
As emoções permitem salvaguardar o património genético, garantindo a sobrevivência da espécie humana, permitindo comunicar estados necessários ao equilíbrio e bem-estar individual, contribui para a aprendizagem na medida em que certas expressões emocionais ensinam as crianças a interiorizar valores e regras sociais, também nos prepara para a acção podendo em certas circunstancias moldar o nosso comportamento para o futuro e por fim pode ainda ajudar-nos a regular a interacção social.
Embora o conceito de inteligência não seja unívoco, há pelo menos três aspectos gerais que permitem qualificar o seu conceito: a inteligência é a capacidade para resolver problemas, fazer uso do pensamento abstrato e uma capacidade para aprender rapidamente e de forma versátil. A inteligência é a capacidade dinâmica que os seres humanos possuem para se adaptarem com eficácia e rapidez às novas circunstâncias do meio em que vivem, respondendo-lhes com soluções criativas, arriscadas e originais.
A inteligência não pode ser vista apenas como uma realidade unitária, mas também como uma faculdade multifacetada em virtude da existência de várias competências ou capacidades que integram a sua composição e se manifestam no comportamento humano; destacam-se na composição da inteligência a capacidade de entender símbolos abstratos, conceitos e representações, a capacidade de aprender novas matérias e de aprender com a experiência, enfim, a capacidade de nos adaptarmos a novas situações e de resolver, em sentido lato, problemas, quer no domínio puramente teórico, quer no plano do quotidiano (social e emocional), quer ainda no plano prático. Saber se a inteligência depende apenas de um fator geral, ou se, pelo contrário, depende de múltiplos factores, é uma questão que tem dividido os psicólogos da área cognitiva. Há psicólogos que defendem a existência de uma única inteligência, que depende de um único factor global, outros defendem a existência de várias aptidões separadas mas que são multifactoriais, outros ainda defendem que não há uma só inteligência, mas um conjunto de inteligências múltiplas.
Outro aspecto não menos importante na composição da inteligência é o domínio emocional e social (a inteligência emocional), isto é, compreender as emoções, as nossas e das outras pessoas, no momento oportuno, e responder-lhes adequadamente, revela que as nossas respostas emotivas e sociais são também manifestações de uma base emocional da inteligência humana que influencia nossa a capacidade de decisão e de acção. Este paradigma da inteligência é bastante recente nas investigações encetadas em Psicologia.
Os principais fatores que potenciam e desenvolvem, ou inibem e bloqueiam o desenvolvimento intelectual são fundamentalmente três: (1) Hereditariedade; (2) meio social e cultural; (3) expetativas.
A hereditariedade refere-se à herança genética, à componente biológica, que constitui um potencial para o desenvolvimento intelectual, está ligado ao processo de maturação fisiológica, em particular, do sistema nervoso. O genótipo, o conjunto de informação genética que um indivíduo herda dos pais, representa uma condição para a inteligência se desenvolver normalmente. Está por provar se há uma relação determinista entre genes e Q.I.; tudo parece indicar, em termos científicos, que não há uma relação determinista e que os fatores sociais e culturais são, de longe, mais importantes para um desenvolvimento equilibrado das capacidades intelectuais. Assim, um meio familiar estimulante, um meio social que seja economicamente vantajoso e onde o acesso à informação, educação e cultura não têm obstáculos, constituem fatores positivos para o desenvolvimento da inteligência. O potencial hereditário pode ser (ou não) desenvolvido por circunstâncias favoráveis dos contextos sociais e culturais. Quanto às expetativas, relacionam-se com os outros e com a própria pessoa, podem ser positivas ou negativas e influenciam a inteligência. O que os outros – sobretudo os pais, professores, grupo de pares e amigos – esperam de uma pessoa influencia a capacidade de ser inteligente: se as expectativas são positivas, estimulam as capacidades intelectuais; se são negativas, bloqueiam o desenvolvimento da inteligência. O “efeito de Pigmalião” afecta a confiança que uma pessoa pode ter acerca das suas reais capacidades, uma pessoa pode adoptar comportamentos (que correspondem a expetativas dos outros acerca de nós) de baixa auto-estima e fazer uma imagem negativa de si própria. Este efeito mostra até que ponto as expetativas, quer nossas, quer dos outros, afectam e influenciam o desenvolvimento da inteligência.
A criatividade é a característica essencial do pensamento divergente, do pensamento criador, manifesta-se na resolução inovadora e arriscada de um problema concreto do quotidiano e na produção estética (artística), científica, política, etc.. Existem três características essenciais do pensamento criador ou da criatividade: (1) a fluidez (de palavras e ideias), (2) a flexibilidade e a (3) originalidade.
A fluidez refere-se à facilidade de expressão e à mobilidade de ideias; a articulação entre diversas ideias ou conceitos diferentes e o uso de muitos sinónimos traduzem a grande mobilidade do pensamento criador.
A flexibilidade diz respeito à capacidade de uma pessoa poder mudar rapidamente de estratégias para resolver um problema, é a mudança de ponto de vista perante o risco de cometer erros e continuar, de modo persistente, em busca de novas soluções. É a versatilidade própria da dinâmica do pensamento criador.
A originalidade é a produção de algo novo, inédito, traduz-se na descoberta de novas, múltiplas e diferentes soluções, novas formas e expressões.
Se há um aspecto notável na espécie humana é a sua capacidade de se reinventar constantemente, de tal modo que nenhuma geração se limita a repetir os mesmos gestos, hábitos, comportamentos, conhecimentos e valores, enfim, o modo de vida próprio dos seus antecessores. Cada geração encaminha-se de modo vigoroso para o futuro, para a ruptura dos limites, pois há uma força que nos impulsiona para desbravar novos mundos, penetrar no desconhecido, correr riscos, aventurar-se no jogo, experimentar, criar novos desafios e metas mais ambiciosas, desenhar projectos arrojados e obter vitória e reconhecimento. A mente humana implica sonho, antevisão, pressentimento, invenção, projecto, numa única palavra, imaginação. Os psicólogos sempre se interessaram pelo poder sedutor da imaginação enquanto capacidade gerar coisas novas, mundos repletos de significados originais. Neste sentido, estabeleceram uma distinção clássica no que diz respeito à função da imaginação: esta é entendida como capacidade mental reprodutora ou como capacidade criadora.
A imaginação reprodutora refere-se ao poder mental para evocar imagens provenientes de percepções anteriores e de proceder à sua reestruturação, conferindo-lhes uma forma original de modo a produzir novos padrões, afastados dos dados sensoriais. Quer dizer, tendo como ponto de partida as imagens perceptivas, a imaginação reprodutora é capaz de recombinações inéditas, de modo a que o resultado seja uma estrutura nova, pouco tendo a ver com o que se percepcionou.
A imaginação criadora é a capacidade mental que consiste em lidar e estabelecer combinações de elementos que nunca foram percepcionados. Neste sentido, a imaginação é sinónimo de fantasia, ficção, capacidade de colocar algo completamente afastado da percepção e da realidade vulgar quotidiana por nós experimentada. A imaginação é um poder criador que se torna invenção, descolagem, originalidade, colocação de novos mundos, antevisão do futuro.
Se na imaginação reprodutora ainda é possível reconhecer algumas analogias com os objectos percepcionados, na imaginação criadora, a analogia é de natureza diferente, podendo estabelecer-se através de um símbolo, de uma metáfora, de um esquema, de um signo, de realidades substitutas (representações), que raramente correspondem às coisas percebidas na realidade quotidiana. Assim, o que há de comum entre a pátria e o seu símbolo, uma bandeira? E que têm a ver os jovens com a metáfora da Primavera? Os esquemas apresentados por uma carta topográfica serão semelhantes à natureza dos acidentes do terreno que representam? E qual a semelhança entre a paragem obrigatória e o signo “sinal vermelho”? A imaginação é a marca da diferença da espécie humana, aliada à racionalidade e às emoções, capacita a mente para agir sobre o próprio sujeito e o mundo envolvente. A imaginação é a aptidão mental para formar e activar imagens mentais na ausência de qualquer modelo percebido – neste sentido inicial, confunde-se com a capacidade de evocação ligada à memória. Num segundo sentido, a imaginação designa a capacidade de combinar imagens em quadros ou sucessões. A imaginação reprodutora é a capacidade de reorganizar, sob uma nova forma, traços mnésicos relativos a acontecimentos resolvidos, já vividos pelo sujeito psicológico. A imaginação criadora consiste numa evocação de acontecimentos potenciais (possíveis), mas que nunca foram percebidos pelo sujeito. Considerando estas duas dimensões da imaginação, o mundo em que vivemos será uma pura construção mental?
Assim podemos concluir que a mente humana é bastante complexa devido aos processos psicológicos integrados e interdependentes que a constituem, dando origem a respostas comportamentais diversas e individualizadas. Os nossos comportamentos são complexos em função da actividade mental que lhes dá origem: pensar, imaginar, sentir, querer, desejar, amar, experimentar emoções, estar motivado para realizar objectivos, memorizar e aprender, em suma, construir cada um o seu projecto de vida pessoal e definir a sua identidade pessoal, são todos os aspectos que fazem parte da nossa vida mental. A mente humana é uma unidade de processos cognitivos, emocionais e motivacionais (conativos).
A mente humana é o lugar da totalidade da actividade psíquica. É um sistema integrado e integrador de processos dinâmicos que, em interacção, se organizam e auto-organizam de forma complexa. A mente não é, por conseguinte, um mero conjunto de componentes ou de estados independentes. Cada processo tem uma importância vital na operacionalidade de outros processos, afectando-os e sendo afectado por eles. Isto é particularmente notório nos défices emocionais e o seu impacto na vida mental e pessoal de cada indivíduo. A análise de casos clínicos como o de Elliot (investigado e relatado pelo neurocientista António Damásio) permitem-nos concluir que a ruptura, ou colapso, de um dos aspectos da mente, ou a dissociação entre componentes e processos, não afecta apenas uma parcela circunscrita, mas a sua unidade psíquica e integrativa. Os processos cognitivos, emocionais e conativos são interdependentes – a dissociação entre cognição e emoção compromete a capacidade de planear o futuro. Existe assim uma estreita interacção entre mente, cérebro e comportamento. O conceito de mente remete-nos para a relação de reciprocidade que esta mantém com o comportamento (manifestação observável dos processos mentais), por um lado, e com o seu suporte material (mecanismos neuronais), por outro. Mente, cérebro, e comportamento constitui um triângulo de componentes interdependentes e relacionadas (funcional e estruturalmente). A integração harmoniosa dos diferentes processos mentais é um todo funcional e único que nos permite conhecer, sentir e agir sobre o mundo em que se desenrola e se constrói a nossa existência pessoal.
A capacidade de antecipar o futuro, de planear, formular cenários e prever resultados, diz respeito à dimensão consciente da mente, e é uma capacidade exclusivamente humana, inseparável da imaginação, da emotividade e da intencionalidade da vida psíquica. Na mente humana, a imaginação assume um papel relevante na forma como construímos o nosso mundo próprio. Imaginar, isto é, produzir imagens mentais, depende da capacidade simbólica e está associado a processos cognitivos, emocionais e conativos. Imaginação reprodutora e criadora conjugam-se na nossa capacidade de atribuir significados e de planear, decidir e prever o futuro. Pensamento e acção criam o sentido que atribuímos ao mundo envolvente e à nossa própria existência, contribuindo em permanência para a construção da identidade pessoal. A identidade pessoal é o produto, sempre em aberto, da auto-organização que cada indivíduo faz da sua história biológica e relacional. A mente é, em última análise, o lugar do nosso «eu», é o lugar da personalidade e é aquilo que assegura a unidade, a singularidade e continuidade de cada sujeito psicológico como pessoa.
Depois de analisar e de pesquisar mais sobre este tema pensei que também seria importante para uma melhor e extensa compreensão do mesmo, a visualização de alguns filmes que abordam a mente humana, como o filme ‘A Beautiful Mind’ que muito resumidamente fala de um professor matemático brilhante, muito inteligente, que no entanto sofre de alucinações, é esquizofrénico, o filme retrata a racionalidade que este professora terá de usar para distinguir o real do imaginário e voltar a ter uma vida normal, um filme que aconselho. Aconselho também para que possamos ver várias séries num modo mais concentrado como a série ‘Lie to Me’ que nos ajuda melhor a compreender a mente humana, os erros comuns que todos nós fazemos, e aprender com isso. Quero também falar de algo que acho bastante interessante, que também se relaciona com a nossa mente, que é o efeito placebo. O efeito placebo corresponde a um efeito não específico, isto é, a um efeito que não deriva diretamente da ação farmacológica de um dado medicamento. Este efeito é o que resulta, por exemplo, da administração de uma substância farmacologicamente inerte. Exemplifiquemos: podemos medicar, durante algum tempo, um grupo de indivíduos deprimidos, com um comprimido contendo o princípio ativo de um antidepressivo e obter, aquando da avaliação, um outcome positivo isto é, uma significativa melhoria. No entanto, podemos administrar a um outro grupo, com características clínicas semelhantes, um comprimido que mais não seja que um rebuçado ou uma vitamina, sem potencial efeito no humor. Este último grupo, informado de estar a receber tratamento com um fármaco antidepressivo, poderá apresentar, também, melhoria clínica. Ou seja, este efeito placebo é uma mentira agradável para o nosso cérebro, agradável porque? Porque no caso da medicina, podemos tomar um comprimido para as dores de cabeça, que aparentemente é uma vitamina em forma de comprimido, e poderemos ficar sem mais dores de cabeça, pois o nosso cérebro pensa que está tudo bem.
Alexandre Tomé nº1 12ºA